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Trecho do livro AS CORES DA LUZ

LUZ - a luz no pensamento

Os gregos antigos faziam dos deuses o espelho da sua imagem. O homem só poderia compreender a forma divina projetando dele aquilo que ele teria de mais puro e verdadeiro, sua projeção das melhores intenções; por isso, possivelmente, os deuses exibiam formas humanas. O melhor do que você pode ser, o torna sagrado. Os deuses gregos simbolizavam as melhores qualidades dos seres humanos. De todas as divindades do Olimpo, nenhuma recebeu tantas honras na Grécia antiga quanto Apolo, que tirava os homens das trevas da ignorância pela luz do conhecimento. O núcleo do mito de Apolo traz na sua essência a explicação das necessidades primárias da vida, porque a luz garante a nossa sobrevivência. Luz e Apolo tinham significados semelhantes. Para os gregos, o fogo e a luz eram elementos considerados essenciais para o progresso humano. Sem a luz haveria apenas as trevas.

Apolo passou a ser a imagem da beleza idealizada e pretendida pelos artistas. Tornou-se o símbolo da vitória do belo sobre o feio, do erudito sobre o vulgar, da filosofia sobre a ignorância, da luz sobre as trevas. Era associado com a imagem do educador ideal, provendo inspiração e instrução para o cultivo do corpo e da mente em equilíbrio, além de simbolizar a ordem, a medida e a inteligência. Apolo era o complemento de seu irmão Dionísio, deus do êxtase, das relações entre o corpo e a alma, do prazer, da liberdade, da orgia e dos mistérios ocultos. A alma dionisíaca é livre e está voltada à pureza das emoções e instintos.

Para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), Apolo era o deus dos sonhos, em contraste com Dionísio, o deus das intoxicações. Em "A Origem da Tragédia" (1872), Nietzsche retoma esta dualidade, demonstrando que o apolíneo e o dionisíaco são conceitos opostos e complementares: "a evolução progressiva da arte resulta do duplo caráter do espírito apolíneo e do espírito dionisíaco, tal como a dualidade dos sexos."

Para Nietzsche, os gregos tinham consciência do aspecto negativo da vida, porém não se entregavam ao pessimismo, e sim moldavam o mundo e a vida pela arte, conjurando um otimismo ao transformar a realidade em um fenômeno estético. O apolíneo é a individualização, é símbolo de luz, de medida, de limite, é a arte que procura cobrir o mundo com uma cortina estética, de forma perfeita e bela, fazendo-nos capazes de resistir ao pessimismo através de uma ilusão da realidade criada artisticamente.

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Fernando Dassan


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