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Trecho do livro AS CORES DA LUZ

LUZ - a simbologia da luz

Na Idade Média, surgiram novas linguagens artísticas – afrescos, iluminuras, mosaicos e vitrais –, que vieram como necessidade pedagógica para educar os iletrados. Todos deveriam se preocupar com a alma. Os ideais greco-romanos de proporções harmoniosas (entre corpo e mente) desapareceram. O vitral adquiriu um papel importante nas edificações góticas, tanto do ponto de vista de sua função material, para tornar a parede translúcida, quanto pela sua importância simbólica.

A experiência simbólica tem a ver com a transfiguração da luz que atravessava os vitrais e se transforma em um banho de luzes sagradas. Devido à sua fragilidade, muitos vitrais desapareceram com o passar do tempo. Na catedral de Chartres, na França, erguida no século XII, foi preservado um dos mais belos conjuntos de vitrais existentes. Os 176 vitrais de Chartres mostram histórias bíblicas e do cotidiano do século XIII. Tais obras serviam para os espectadores tomarem uma nova consciência, modificando os valores individuais em função do poder celestial manipulado pela igreja.

Para que o espírito se expanda e brilhe na alma como a luz no cristal é necessário que o vidro seja claro e que se mantenha sempre limpo para a luz atravessá-lo com a mesma pureza. O exercício da fé mantém a limpeza da alma. No entanto, a transparência do vidro – assim como no espelho – remete à distorção da imagem; uma imagem que filtra a realidade.

(...) A luz como modeladora da imagem levou os artistas do século XVI a darem um salto na representação pictórica como nunca antes. Assim, os motivos escuros com iluminação dramática por um foco de luz vindo de uma única fonte caracterizavam as pinturas de Giorgione (1478-1510), Correggio (1489-1534), Giovanni Baglione (1573-1643) e, principalmente, Caravaggio (1570-1610), que dá origem ao espírito do Barroco e a toda uma escola de pintura italiana conhecida como Tenebrismo. Caravaggio sabia como poucos usar o efeito dos tons terrosos e escuros que contrastam com os pontos de luz bem claros. Além disso, ele procurou a realidade palpável e concreta da representação. Utilizou como modelos figuras humanas, sem qualquer receio de representar a feiura e a deformidade em cenas provocadoras, característica que distingue suas obras. A rudeza de suas pinturas chocou seus contemporâneos. No entanto, Caravaggio criou uma das pinturas mais famosas da história, ao retratar a figura do mito de Narciso com um belo jovem na beira de um lago contemplando a si mesmo, apaixonado pelo reflexo da sua própria imagem espelhada na água.

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Fernando Dassan


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