vimeofacebookinstagrame-mail

Trecho do livro AS CORES DA LUZ

HARMONIA - equilíbrio e liberdade

Atualmente, existem vestígios de um "esvaziamento" da exemplaridade da beleza e da capacidade da arte como ação transformadora. Na realidade, vivemos a saturação de cópias e desconfiamos da própria originalidade. Mesmo que renunciemos à noção de beleza – como um ideal compartilhado – é preciso encontrar a ideia de uma estética da existência, que busque algum tipo de 'harmonia', mesmo sabendo que a noção de harmonia seja individual e muito relativa. A beleza é um conceito subjetivo de apreciação. Uma experiência perceptual de prazer ou satisfação. Cada um sente de uma forma o que denominamos prazer e satisfação. A beleza ultrapassa os limites do comum para se tornar algo especial. A grande pintura não é mais sobre o assunto, mas sobre a forma como um artista comunica beleza, sensibilidade e integridade. Ele busca a legitimidade de si. Sua verdade própria. Transforma a sua essência em arte. 

(...) É difícil definir a arte contemporânea. Para alguns, a característica mais importante dela é sua tentativa de criar pinturas e esculturas voltadas para si mesmas e, assim, distinguir-se das formas de arte anteriores, que transmitiam ideias de instituições políticas ou religiosas. Kandinsky, por exemplo, dizia que a cor combinada com a abstração poderia expressar uma realidade espiritual fora do comum, enquanto o pintor alemão Otto Dix (1891-1969) criou obras de cunho abertamente político, que criticavam o governo germânico da sua época.

O pintor russo Kazimir Malevich (1878-1935) foi o criador do 'suprematismo', uma forma de pura abstração não descritiva. Suas pinturas consistiam em uma única forma geométrica bidimensional. Ele dizia estar removendo todas as pistas visuais do mundo conhecido, de modo que o observador pudesse ter apenas a supremacia da pura sensação. Malevich estava desafiando o espectador a não procurar sentido além da própria pintura. Não havia mais nada para ver. Ele dizia ter "reduzido tudo a nada" e propôs a liberdade plena da visão, removendo todo o excesso, simplificando a forma e reduzindo o uso de cores. Para Will Gompertz, no seu livro "Isto é arte?": "Ele estava, na verdade, transformando o artista num xamã. E a arte num jogo mental em que o artista estabelece todas as regras."

Alguns teóricos acreditam que a arte contemporânea é rebelde por natureza e que essa rebeldia fica mais evidente na busca da originalidade e da vontade de surpreender. Ser a vanguarda a qualquer custo. Muitas pessoas associam a arte contemporânea com aquilo que é radical e perturbador. Outra característica dela é o seu fascínio pela tecnologia e a utilização do mundo digital multimídia. Sob outra perspectiva, porém, afirma-se que a motivação básica da arte contemporânea é criar um diálogo com a cultura popular. Assim, ela pode entreter, divertir, alienar e banalizar a vida.

Página 216

Fernando Dassan


© 2020 All rights reserved.