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Trecho do livro AS CORES DA LUZ

VISÃO - a leitura da beleza

A nossa percepção do mundo é em grande parte autoproduzida. Os estímulos visuais não são estáveis: por exemplo, a intensidade da luz refletida pelas superfícies muda com as alterações na iluminação. Contudo, o cérebro atribui-lhes uma cor constante. Uma mão a gesticular produz uma imagem sempre diferente e, no entanto, o cérebro classifica-a como uma mão em movimento. O tamanho da imagem de um objeto na retina varia com a sua distância, mas o cérebro consegue perceber qual é o seu "verdadeiro" tamanho. A tarefa do cérebro é extrair as características constantes e invariáveis dos objetos a partir da enorme inundação de informação que recebe. Vemos o mundo de acordo com a maneira como o nosso cérebro o organiza. O processo de ver é um processo de "completar" o que está em frente a nós com aquilo que o nosso cérebro julga ver. O que vemos não é a imagem na nossa retina, é uma imagem tridimensional criada no cérebro, com base na informação sobre as características que encontramos. Em certa medida, o que vemos é sempre uma ilusão. A nossa imagem mental do mundo só vagamente tem por base a realidade. Porque a visão é um processo em que a informação que vem dos nossos olhos converge com a que vem das nossas memórias. As propriedades percebidas dos objetos, tais como o brilho, tamanho angular, e cor, são "determinadas" inconscientemente e não são propriedades físicas reais.

A interpretação do que vemos no mundo exterior é uma tarefa muito complexa. Já foram descobertas mais de trinta áreas diferentes no cérebro envolvidas no processamento da visão. Umas parecem corresponder ao movimento, outras à cor, outras à profundidade (distância). A nossa visão simplifica a realidade. É essa simplificação que nos permite uma apreensão mais rápida (ainda que imperfeita) da "realidade exterior". Para Jung, a noção de imagem aparece ligada ao estudo da memória indireta e trabalha também com a ideia de fantasia. Ou seja, a imaginação corresponde à realidade do indivíduo. A síntese em nós entre a intensidade viva do real e sua respectiva elaboração intelectual é obra da imaginação. A realidade se manifesta cheia de multiplicidades e de unidades, de diferenças e de semelhanças. O tempo e o espaço são as dimensões do mundo e eles dimensionam a realidade. 

Página 108

Fernando Dassan


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