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Trecho do livro AS CORES DA LUZ

VISÃO - imagem e imaginação

A imagem é dotada de um poder especial: torna presente algo ausente, seja porque esse algo existe e não se encontra onde estamos, seja porque é inexistente. No primeiro caso, a imagem é a representação de alguma coisa que existe; no segundo, é a criação de uma realidade imaginária. Graças à imaginação, abre-se para nós o tempo futuro e o campo das possibilidades. A percepção visual alcança as coisas, as pessoas, as situações por perfis, perspectivas, faces diferentes que vão sendo articuladas umas às outras, num processo sem fim, podendo sempre enriquecer nosso conhecimento, nos fazer perceber aspectos novos, ir "completando" o percebido com novos dados ou perspectivas. A analogia é um processo cognitivo de transferência de informação ou significado de um sujeito para outro. Embora sejam diferentes pela natureza da analogia, as imagens novamente possuem algo em comum: raramente ou quase nunca a imagem corresponde materialmente à coisa imaginada. Por exemplo, a bandeira e a nação são materialmente diferentes, assim como a fotografia e a pessoa fotografada também são materialmente diferentes. Notamos, assim, que as imagens são irreais, quando comparadas ao que é imaginado através delas. Um quadro é real enquanto quadro percebido, mas é irreal se comparado à paisagem do qual é imagem.

Para Sartre, se uma pessoa apaixonada tem diante de si a pintura ou a fotografia da pessoa amada, tem a imagem dela. Ao olhá-la, não olha para as manchas coloridas, para os traços reproduzidos no papel, não presta atenção no trabalho do pintor nem do fotógrafo, mas torna presente a pessoa amada ausente. A imagem é diferente do percebido porque ela é um análogo do ausente, sua presentificação (ato pelo qual um objeto se torna presente sob a forma de imagem).

Em outras palavras, percebemos e imaginamos ao mesmo tempo, embora perceber e imaginar sejam diferentes. Percebo a fotografia e imagino a pessoa amada. Percebo a fisionomia da pessoa fotografada (o olhar, o sorriso, as mãos, a roupa) e imagino a sedução do olhar, a doçura do sorriso, a sutileza dos gestos, a preferência por certas roupas. São dois estados de consciência simultâneos e diferentes. A força irrealizadora da imaginação significa, por um lado, que ela é capaz de tornar ausente o que está presente, de tornar presente o ausente e criar inteiramente o inexistente. É por isso que a imaginação tem também uma força prospectiva, isto é, consegue inventar o futuro. A imaginação pode criar um mundo irreal que julgamos melhor do que o nosso. 

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Fernando Dassan


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