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Trecho do livro AS CORES DA LUZ

VISÃO - o sistema visual

Para Aristóteles, o dualismo platônico entre mundo sensível e mundo das ideias era um artifício dispensável para responder à pergunta sobre o conhecimento verdadeiro. Nossos pensamentos não surgem do contato de nossa alma com o mundo das ideias, mas da experiência sensível. "Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos", dizia o filósofo. Na busca por compreender os princípios e as causas da realidade, Aristóteles identificou vários modelos, sintetizando-os em sua própria teoria das quatro causas: causa material, causa formal, causa eficiente e causa final. Conforme Aristóteles, todos os seres, assim como tudo o que existe, comportam essas quatro causas, necessariamente. Assim, se tomarmos como exemplo uma estátua de um homem em mármore, poderemos ver a matéria de que é feita (mármore - causa material), a forma que ela assume (os contornos de homem - causa formal), o que deu início ao movimento (a ação do escultor - causa eficiente) e o fim para o qual foi produzida (a contemplação - causa final).

Para se compreender o pensamento aristotélico é preciso conhecer a distinção que o filósofo faz entre ato e potência. Ato é a forma assumida por um ser em um determinado momento, sua realização segundo um fim inerente ao ser. Potência é aquilo em que é possível algum ser se transformar em virtude desse fim próprio. Assim, uma semente é uma potência da árvore. Em ato, a semente é o que ela é. Um grão mínimo. Mas nessa mesma semente há uma potência, ou potencial, uma parte oculta que está contida nela, a árvore. Antes mesmo da semente ser plantada, já está dentro dela, em potência, uma árvore. Mesmo que essa semente nunca venha a ser plantada, ainda assim a potência está lá, aguardando as condições ideais para, nesse caso, germinar. Esta, ao realizar o fim do movimento, atualizou sua potência. Logo, o ato é a forma que os seres devem atingir através do movimento, tendo como fim a perfeição. E a potência é a matéria que sustenta a transformação, o devir. Esse modo de se compreender a realidade permite conceber a unidade do ser. O princípio de identidade se reserva ao ato que dá forma aos seres. Assim, o conhecimento se dá a partir da forma que é universal.

Aristóteles desenvolveu uma explicação de como ocorre a visão através do meio. O ponto básico dessa teoria é a atuação do meio transparente pela luz, que permite ao observador ver as figuras dos objetos, assim como as suas cores. Para Aristóteles, vemos a materialidade do opaco porque só vemos pela imaterialidade do transparente, onde atua a luz. O transparente é visível graças à cor. A luz é a cor do transparente quando este existe em ato. A luz é atividade imaterial corporificada no translúcido pela cor. A cisão entre os adeptos das teorias perceptiva e emissiva do olhar resultou no desdobramento de diversas outras teorias e despertou um profundo questionamento sobre como as pessoas viam. Somente no século XVII os estudos sobre óptica consideraram o olho como o receptáculo de informações provindas dos objetos até sua representação como imagem.

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Fernando Dassan


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