Quando a criança brinca de esconde-esconde, rimos porque ela fecha os olhos, certa de que, ao fazê-lo, os outros deixam de vê-la porque ela deixou de vê-los, atribuindo ao olhar um poder de irrealização das coisas que a cercam. Olhar é, ao mesmo tempo, sair de si e trazer o mundo para dentro de si. As janelas da alma são também espelhos do mundo.

Os pintores nórdicos, flamengos e alemães estabeleceram uma convenção representativa dos olhos das pessoas retratadas nas pinturas. O pintor representava com contornos nítidos uma janela, na parte anterior da córnea e da íris, uma janela que aparece como refletida por um espelho convexo. Em um primeiro momento, pode-se pensar numa representação realista e ilusionista, os olhos refletindo uma janela real. No entanto, a pequena janela luminosa encontra-se em muitos contextos, os olhos se converteram em janelas da alma, ou espelhos do mundo refletindo fatos e esperanças aos personagens pintados.

Página 61